31 de dezembro de 2009

Trinta e um

   13:12. Não levantei. Porta trancada. Janela fechada com pedaços quentes de sol atrapalhando o meu não sono. Com o edredom entre as pernas e nada mais do que uma calcinha pra ajudar nesse sufocante calor, olhei, sem muita confiança, com olhos remelados para o ventilador de teto. Está sujo e vai passar a virada assim.
   Eu geralmente não gosto dos dias. Mas mais do que qualquer outro dia, esses últimos vinte trinta e uns de dezembro têm me incomodado. E, pra não remar mais contra a maré, resolvi, nesse escuro quente, pesar a consciência na balança clichê dos dias que existi. Sem sucesso. Só gosto disso em aniversários. Virei pro lado e agarrei o travesseiro. Continuo com tosse.
   Dessa vez olhando pra esquina do espelho, que beira o chão, com a parede, suspirei e assumi que a verdade é que eu de fato nunca pareço (leia isso como: estou) satisfeita. Injusto com... Vesti a camisola, abri a janela. Andei desengonçada e tonta até o banheiro pra entrar em um banho fresco. Continuei de mau humor. Almoço-Friends-assar cookies-fugir pra companhia da minha irmã.
   Não faço coisas que não sei o que significam e ainda assim me pego apaixonada por esconderijos e palavras de um dicionário mentiroso. Chacoalhar a cabeça, cantar até machucar a garganta, escangalhar a cabeça e latejar: "Is someone getting the best of you? You know where you are? You're in the jungle, baby, you're gonna die."
   Não estou bem.
   Esmaguei duas formigas. Correr para fugir.

9 de dezembro de 2009

Lanterna na água

   Não se pode mais viver aqui. Se me sou toda doida já e sozinha, como fico pra morar num dia que não sabe ele mesmo se é quente ou frio? A cidade ficou louca também, há dias com chão de água, e noites de escuridão extrema, sem luz de poste, de janela, de Natal. Precisei de velas e galochas.
   Num ímpeto de egocentrismo eu pediria perdão. Reparei já faz alguns anos que o dia fica de mal comigo quando de mal comigo já basto eu mesma. E se meu dia é o mesmo dia dos dias que são dos outros, portanto a culpa é minha de fazer dia feio pra quem sabe viver feliz nas nuvens cinzas. Vou fazer mais tempestade se isso que me está doendo dentro não passar.
   Como se implora em silêncio a solução da duvida? Eu sei, e arde. Arde em ondas que não sossegam o ir e vir. E que me deixam com medo da noite. Porque todo mundo sabe que as maluquices que queimam de dor preferem fazer visita de noite. Gostam do meu travesseiro, do meu edredom e da almofada que quase morre sufocada, mas gostam principalmente de mim, e portanto se alojaram no meu peito sem previsão pra partir. Suspiro. Pausa. Olho pro lado e torço o lábio. Nada do que escrevo gosto. Estou decepcionada comigo e com a metade de mim que se foi.

Isso é um grito de socorro e eu não quero ouvir ninguém.
   
   

1 de dezembro de 2009

Madeira clara

   Abri a janela pra combinar o dia triste lá de fora com o meu dia de triste peito. Percebi um hábito. E era uma intenção ardida de chorar mais do que cabia, do que podia, do que faço costumeiramente, do que fiz esses todos dias. Não o fiz por motivo atípico. Pois, quase como se meus olhos quisessem se suicidar, arrastei o olhar pra baixo e me deparei com uma janela aberta por completa e sem medo nenhum da nuvem preta que me tragou.
   Era mais um moço de vermelho, dos tantos que deviam estar de vermelho hoje. Regata também neste dia que está mais pra frio. Errou a roupa comigo. Deve estar perdido ou então morre de preguiça. Com um aviãozinho de papel tentei avisá-lo que estava sozinho:
"Moço, olhe bem que não há sequer móveis neste seu apartamento! Levanta depressa daí que este seu deitar só no chão, de madeira clara, deve ser dor no peito de quem não veio, não veio, não veio..."
   

29 de outubro de 2009

Cócegas

   Esta luz afiada da manhã quase tarde está ardendo meus cílios pintados de preto. Não vou fechar a janela. Alguém precisa ser avisado sobre a falta de funcionamento destes cobertores acinzentados: estão vazando água e ainda por cima não me escondem do sol. Mas são tão bonitos... quase mar nervoso de ponta cabeça.
   Pois ouçam, se o céu fosse mar e o mar fosse céu, é certo que paulistanos se machucariam muito nessas agulhas habitáveis.

Sinto cócegas nos pés e perdi o jeito pra fazer poesias.

23 de outubro de 2009

De novo

   É como se uma onda de preocupações aterrorizantes cobrisse meus olhos. Ardem, como se eu não tivesse dormido, ou como se tivesse chorado por horas. Não o ocorreu. Não hoje. O dia é que está ardido por estar. Eu não. Estou bem. Muitíssimo bem. Mas só por estar bem não se deve dizer que o eixos estão certos. Eu guardo um grupo de pensamentos inteiros de preocupação.
   Uma cortina fechada, outra quase toda aberta. Quase, quase. Estão desalinhadas e pra sair da repetência hoje não me importa. Elas estão certas tortas. E tortas certas me deixam por trás de uma moldura singular, que enquadra, ou enretangula, telhados vermelhos, prédios convencionais, ou pontigudos e uma construção imensa e redonda. Toda esta paisagem está suja por um verde afogado.
   Ouçam este suspiro desconfortável de quem caiu pelo Amor de novo.
Eu amo de novo, e de novo, e de novo, e de novo...
   

29 de julho de 2009

Disposta sozinha

   29. Já faz tanto. Parei de estar viva e não sinto impulso algum de. Ouvi que coração que suspira não tem o que quer e não tenho nem mais o que querer. Não vou dizer chega, e não gosto das condições. Chorar mais não confortou e fingir não pensar no que me acorrenta é a melhor fórmula para aquisição de inquietação no peito. Amélie sem efeito. Faz muitos dias que o mundo é feio e apesar de os ter, não sinto confortos de amor.
   Não acreditem mais quando eu disser que mergulhar em viver das próprias paixões, não fugitivas, salva. Não salva nada. Cantar me chora, escrever me anestesia e artesanato não tem complemento. É pura condenação. Dormir de dia, e de tarde, e de noite. Ou não dormir afinal. Meus amigos morreram em mim. Desculpem, andei me matando por aí.
   Serão pistas os pequenos carinhos que vejo? Pois se são, as vejo com olhos de Bentinho. Nada cabe no que desenhei com perfeição imperfeita e sou inculta demais pra manter qualquer tipo de progresso intelectual. Além disso, meu coração anda preguiçoso e sem esperanças, mas arde nas músicas que compus e nas admirações que vi e dividi.
   Nunca quis fazer sofrer, nem estragar nada e ainda assim dancei errado todos os passos. Deixei que me vissem descoberta e acabei por me ver mais uma vez sem graça, e desmerecida do amor que eu mais quero de volta. O único que não ousei chamar de amor até enfartar de romance. De ver romance.

Ai. Nasci nas últimas décadas do século XVIII.

24 de junho de 2009

Bando de desorganizados

   Vamos lá. Mais um daqueles dias em que acordo ansiosa, tomo banho frio e volto a dormir. Uma hora depois. Outro frio na barriga, outro choque térmico e volto a dormir. Mais uma tentativa, mais um banho frio e não vou dormir de novo. Que falta de senso! Espio os que ainda me tem carinho: "você sumiu, cadê você, o que anda fazendo, aparece..." Pois ouçam, pra mim eu existo o tempo inteiro e viver comigo é duvidar da própria existência. Não me sumo e não me suporto.
   Afta embaixo da língua e um torcicolo safado. Estalo o pescoço a cada pausa para selecionar o que digo aqui. E isso é mera descrição auxílio de imaginação, verídica, porém, descrição. Um bom complemento de tudo isso seria pintar essa mesma cena usando meu moletom velho e laranja ou falar sobre o tic-tac preto que segura a franja do novo corte não tão adorado de cabelo. Não é meu maior incômodo.
   Uma verdade existe e me proíbi de falar sobre ela. Eu estou na medida do possível bem e não quero compartilhar uma vírgula do meu tema destruidor desta vez. Mas meu quase sossego vem de dizer e eu preciso registrar que estou a beira da explosão da raiva por conversar tanto comigo. Como cabe tanta antagonia em um corpo que viveu a mesma vida? Digo-me duas, como se cada uma tivesse um histórico próprio. Agora dor nas costas. São duas histéricas de coração ardido. É um monte de gente em mim que não sabe se acertar.

   Não estou rumando a nada. Boa quarta-feira.

14 de junho de 2009

Ardendo tintas


   Não. Pra qualquer saída que eu mesma desenhasse meu suspiro ardia berrando não. Costumava saber me safar. Sempre bastou regar minhas paixões extra-amor com lágrimas e tudo voltava ao confortável. Bastava chorar escrevendo, bastava molhar o violão, bastava brincar com tintas. Mas agora, essa falta de opinião para algo que deveria ter se formado a tempos está me condenando a ardência da carência. Não fico bem. A não ser quando.
   Dependência pura, quem sabe líquida, dessas mentiras que me conto. E tudo isso porque sempre me criei na fantasia. Escrevi meus fins e agora não consigo mais sair de um roteiro que não elegi como final. Só consigo gritar socorro. E nesse filme alguém com maior carinho do que eu tenho por mim precisa me recolher. Aproveitem-me.
   Falta crença na minha realidade, falta confiança nos meus reflexos. Falta a bomba atômica do meu rumo. Falta aprender a acreditar. Falta muito. E cada dia mais eu tenho impressão de que serei daquelas que dura pouco.
   

2 de junho de 2009

Madrugar

   Muda-se de humor muito. Muito algo, não sei se depressa, se demais, se. Portanto algo. Ando ocupada. Com muito e com nada. E me mantenho em frases curtas porque me enfio em prolixidade quando resolvo dizer demais. Na verdade hoje nem tenho o que dizer. Poderia descrever minha gripe, mas ela já incomoda uma pessoa só o suficiente. O ministério da saúde deveria advertir que isso não é de se dividir.
   Perdi o sono hoje lá pelas 03:49 em ponto - dizia meu celular. Não tinha e não tenho mais o que assoar, mas que faço? Papel e caneta. Voltei a tentar compor. Meu violão em outro cômodo, incômodo. Credo! Relendo tudo que disse me vi numa crônica de quem madruga e bebe café a meia luz da cidade grande. Não que eu não me encaixe nessa sentença, mas costumo falar do que não costumo dizer. Ou pelo menos sempre tento falar o que não se dá pra dizer e fico por não conseguir.
   Gostei do cenário: caneca branca, cortina entreaberta, escuro, riscos de luz no chão e quadrados dessa lá fora. Uma freada, um susto, uma batida. Tudo pela moldura da janela. Uma moça de roupão ficaria bem aqui. Mas não a quero. E nem quero nada disso, só achei interessante como filmei isso em mim.
   Por falar em filmes, não costumo indicar nada, porém: Romance.

26 de maio de 2009

Quando?


   Tenho essa mania babaca de chorar e me olhar no espelho todas as noites. Acho bonito como meu olhos realçam com o vermelhão borrado de preto. E com certeza seria um hobby interessante se. Pois bem, assoar o nariz entupido de ranho lagrimado na madrugada também. Toda aquela curta caminhada, nas pontas dos pés descalços, até o banheiro de piso gelado me ajuda na insônia. Mas na verdade é só desculpa pra trocar de espelho. Culpa da luz. Quarto, banheiro, quarto, banheiro, quarto, banheiro, quarto, quarto, quarto, quarto, banheiro, cama. Já está mais do que na hora de parar com isso. Eu durmo agarrada com meu edredon e amasso a cabeleira bagunçada no travesseiro molhado. E acordo cedo já embrulhada em suspiros. O telefone nunca toca.
   Chega de falar do que eu quero. Chega de falar de meleca. Chega de petições. Chega de mim. Chega de sonhar acordada, chega de esperar o que nunca veio. Nenhuma vez. Até hoje. Decidiram por mim que essa vida não me serve. Cansei, desliguei, morri ou sei lá, achem o que quiser. Vai ver o mundo não é de fadas como eu sempre me forcei a ver. Mas é que se eu não acreditar que as coisas são lindas, então nunca verei nada realmente bonito. Preciso de força ou impulso. Ou algo novo que me cuide de manter os detalhes doces.
   Eu não sei de mais nada, apenas o que já me era sabido. E o que eu nunca tive certeza, deixa pra lá também, porque estou no fim. Não descobri bem o que de mim quer fugir ou morrer mas está aqui. Tenho que lembrar: não esperar nada de ninguém e tudo de todo mundo. Por mim vou fugir. Correr por aí com alguns trocados no bolso e viver de...? Cantar dor, Billie. Ou esperança, né Billie?
   Respira fundo. Não chegou ninguém pra te cuidar. Me. Mas estão chovendo agora muitas gotas.

20 de maio de 2009

Vidas de cama

   Voltei pra minha rotina. Sempre me liquidam as aulas que falam demais. Costumo ouvir o que não deveria. Histórias dão conforto. Isso, isso, é claro que isso. Mas já sabia, não. Se eu fugisse de como usualmente digo as coisas talvez eu pudesse gostar um pouco mais do que às vezes quero dizer, mas é que pra mim chega. Não aguento um pingo a mais e vou deixar pra lá. Toc toc? A essa hora da madrugada? Aaah, é mentira minha. Mas é mentira de mim pra mim.
   Tenho essa repetição maldita que me ocorre todas as noites desde que me lembro ser. Refaço meus dias na cabeça com muita cinematografia. Essa palavra existe? Pois bem, já fui famosa antes de dormir. A cantora mais doce e não chata do mundo. Uma super escritora que vive de ganhar dinheiro com essa junção de caracteres prazerosos e dignos de artesanato. Já fui bem magra em capa de revista. Já fui gênia do século, mestra em dores de aflição de peito. Já fui a pessoa mais sábia do planeta. Também já fui a editora chefe de muitos departamentos de livros infantis. E também já fui muito amada, (isso costumeiramente não sairia de mim por pudor) mas por muitos e muitos homens. Mesmo. Geralmente todas mins moram no mesmo apartamento arquietado há anos (bem pequeno, de dois quartos, um desses todo pra música e artesanato, cores e antiguidades) e por ironia tem aquele amor companheiro, bobo, admirado e apaixonado de vida inteira. De verdade? Cabe tanta gente e coisa na minha cama.
   Insônia. Eu só quero, e quero muito de tudo que venho rascunhando pra mim. De qualquer um dos rascunhos espalhados. Chega de morrer por correr com pressa atrás. Eu não vou mais. Até segunda ordem de mim pra mim. 
   A verdade é que a persistência desaba quando não se tem mais motivo pra sair dessa cama. Ou?

 Mais aflições curtas agora no Twitter

15 de maio de 2009

Pinga chuva


   Não tenho tema nenhum pra jogar aqui hoje. O que não é justo já que a ardência no peito continua. Mais forte do que o normal pra ser sincera. Suspirar não resolve mais e já tentei chorar até tremer. Nada. Vou pra balada e vou sair de mim, e fazer bico pra dançar porque ainda sou mulher. Pelo menos hoje não me ser e me afogar no que geralmente não é costume. O dia está feio, molhado. Minha vontade não existe, inventei vontade externa pra me levantar da cama e pretendo usar essa mentira pra durar até sabe-se quando. Não dormi um dia sequer direito essa semana. E aparentemente vou continuar assim.
   Por pura vaidade pretendo me arrumar ao extremo. Parecer bonita ainda é uma das poucas coisas que me dá prazer e é minha. Não que isso seja informação útil. Na verdade nada do que se lê aqui ou em outros posts é. E se por acaso essa for sua primeira visita não adianta buscar mais conteúdo cultural. Não sei viver de escrever o que me ensinaram, só sei vomitar o que dói. Nem o que não dói eu sei descrever. Costumo usar sempre o mesmo vocabulário repetente e raramente me lembro de palavras bonitas que por pouco tempo expressam melhor o que eu deveria registrar. Além disso pra algumas coisas eu consigo ser bastante preguiçosa. Mas não é meu maior costume, aliás acho até que me doar demais pra tudo que decido é sempre um dos extensos motivos das minhas dores, raivas, choros, ansiedades e assassinatos de mim. Eu deveria parar e cortar tudo o que faço. O mundo podia correr atrás de mim às vezes. Só pra ver se por acaso eu mudo de idéia.
   Ai meu pescoço e boa tarde pra quem fica.
Fot por: Natália Facchini

13 de maio de 2009

Sozinha

   Eu vou sair daqui. E vou comer. E vou andar apressada até o metrô quase tropeçando em mim mesma porque essa cidade me fez assim, não porque estou atrasada. Mas principalmente porque eu não gosto de lerdeza e enfureço até a última gota da minha alma quando enfio os pés pelas mãos. Na verdade ontem disseram tanto sobre como se é, que eu quase acreditei ser tudo uma questão de criação e vontade. E nessa brincadeira de mentir, transformei aflição em dor de barriga de rir de algo que no fundo não era tão altamente gargalhante assim. A música não pode parar agora (e isso não é uma metáfora para parodiar "the show must go on" é apenas o som mesmo que se me for desligado quebrará o que estou segurando).
   Enquanto estiver no barulho eu vou andar correndo, e vou sorrir sozinha por olhar as ações dos desconhecidos existentes no mesmo local que me encontro. A feição das pessoas que lêem na rua é algo delicioso. Vou observar (ou observarei pra quem quiser privar o correto) o sol laranja que machuca minha vista quase toda tarde. Estarei atenta à placas de carro porque me divertem no trânsito e empurrarei empurrada a multidão toda.
   Eu faço sozinha, e sempre me dobro. Eu. Eu eu. 
   Esse blog é puro egocentrismo.

12 de maio de 2009

Minhocas e filmes


   Trocaram meu cérebro por minhocas. Minhocas bastante falantes e desconfiadas, se querem saber. E percebi o quanto é difícil viver com uma cabeça e um coração. Quem deveria falar não é a boca? Ando inquieta em excesso. É como se tudo doesse e eu não tivesse mais controle de nada. Todo e qualquer esforço pra me manter sã, escorre de mim. Ai ai ai ai ai ai. Preciso de cuidados, e preciso de concreto. Sem contar que com esse frio todo na barriga não dá mais. Eu quero viver demais e estou morrendo. Minha rotina favorita não...verbo mais. Dormir pra sempre parece uma grande escapatória, se não fosse é claro a programação de filmes para sonho que as minhocas têm escolhido pra mim.
   Não quero nada. Estou sem pique pra sair e não quero a companhia de muita gente. Estou seletiva e chata. Muita comida já não me preenche mais e não acho mais chocolate algum com gosto gostoso. Cantar dói e dançar me atrapalha. Não quero andar até cansar como costumava fazer. Não quero ler, não quero saber, não quero, não quero. Não quero falar, e tampouco sei o que gostaria de dizer. Tem um nó na minha garganta bastante grande que não desce com água e nem some com choro. Não quero sermão e nem conselho de ninguém. Quero só escrever o tempo inteiro sem me fazer clara, sem ser direta, sem dizer coisas com sentido porque no fundo no fundo eu não encontrei sentido em nada do que me dói. Minha mãe me disse que se eu não fosse Mayara, seria Clara. Mas não importa mais porque se eu fosse de fato Clara não me faria mais clara.
   Ontem com a cabeça no travesseiro as lágrimas saíam de mim sem exigir esforço de careta, só corriam. Comecei a pensar que com certeza grande parte do mundo estava a chorar comigo, cada qual com suas dores. Queria fazer a minha valer menos. Achei que não podia dormir sozinha e fiz minha irmã se expremer comigo na minha cama de solteiro. 
   Ela só não podia ter dormido primeiro.

Foto por: Hilton Facchini

10 de maio de 2009

Melodia

   Gosto de músicas melancólicas. E hoje.. ah hoje... Eu queria saber escrever como se não fosse eu mesma porque cansei da estrutura das coisas depois de prontas por mim. Deveria deixar apenas um "aaah" de suspiro. É só o que eu tenho feito ultimamente. Digo isso levantando os ombros e as sobrancelhas com uma expressão de quem diz não ter culpa. E gostaria de contar uma história de coisas doces. Uma história cheia de bobagens minhas, porque eu sei que em todos os meus fins, sempre descubro que o que me vale é essa melodia gostosa de violões delicados que eu costumo escolher pros meus dias.
   Eu não costumo fazer isso aqui porque não acho que seja correto, mas melhor forma de resumir o que digo não vejo. Apenas ouçam duas músicas: "Mango Tree - Angus and Julia Stone" e "Get Sick Soon - Hello Saferide". E só depois de colocarem play em alguma das duas eu peço que continuem a ler. Mas antes também gostaria de dizer que não poderia dizer nada do que direi, em primeira pessoa. E se usar a terceira, a idéia de que eu mesma estou dizendo as coisas persistirá. Portanto vou usar você. E vou dizer que...
   Você abriu os olhos de manhã e desejou com dor no peito que meu sorriso estivesse te dando bom dia. E passou o dia desejando que não existisse medo. Sussurrou no meu ouvido que queria chocolate quente, cobertor, pipoca e um filme daqueles que você acha graça por me atingirem, só pra me ver sorrir e chorar. Você queria tocar violão. Eu não deixei e te abracei por tanto tempo que o mundo todo morreu. Atrapalhou toda a história que eu contava só pra dizer que me adora, segurou meu rosto de cara de choro e deixou o silêncio não dizer que existe fim. Além disso você me contou todas as coisas que gosta no mundo, como pisar em folhas secas, misturar quente com frio e carinho nos cabelos.
   É... É....

5 de maio de 2009

Fica comigo


   Consegui. Mais um dia de ardência. Na verdade três. E não deveria estar aqui, já que tenho tanto pra fazer. Porém, me recordei num dia frio com sol como o de hoje, a caminho de casa enquanto andava de óculos escuros e uma blusa azul, de lã, quente e de gola alta, que há quatro anos nada era como é. Principalmente por eu estar sozinha a caminhar na rua com meu celular no bolso e uma pasta cinza nas mãos. Mas mais do que principalmente (já que não me recordo de nenhum sinônimo bom no momento) eu lembrei e doí de algo.
   Com 15 anos eu resolvi num supetão de dia para noite que só eu precisava de mim. E que portanto era um precisar duplo já que eu sou uma só. Como se meu eu se pedisse pra mim e meu outro eu, que é o mesmo, estivesse sendo pedido também. Um símbolo de infinito matemático agora cairia bem. Se não houvesse o empate de que meus eus também queriam alguéns.
   Não vim falar de carência, só que pra variar me despistei. De certa forma é como um suspiro rápido pra quando se tem frio na barriga. Alivia por segundos. Vim tratar de algo que não decidi a proporção de importância ainda, por isso não ousarei chamar de mais ou menos importante do que carência. Estou redundante e sem vocabulário hoje. Penso que isso se deve a minha preocupação com a noite.
   Voltando a meu início: com 15 anos, eu também descobri que além de precisar de mim, eu era também meu único instrumento de viver e que portanto meu infinito de ser era o único capaz de lutar. E só sei tomar conta desde então. E queimo por dentro por querer sempre achar um jeito sozinha. Só eu tenho vontade de fazer. Meu físico e emocional não se acompanham e em dias como o de hoje teria que andar no sol o dia inteiro pra equilibrar o desgaste.
   Eu quero tanto. E tenho tantas vontades de vida em mim que acabo por lutar demais comigo mesma sem aproveitar o que está ao meu lado. Por puro medo. Medo medo medo de ficar sem. De morrer hoje por acaso com uma bala perdida e não saber se eu vivi tudo que desejo com o espírito de quem é apaixonada pelos segundos que se chora ou ri.

Vida, não me acaba. Fica comigo.

Foto por: Natália Facchini

25 de abril de 2009

Para quem me lê

   Percebi que meus leitores disso aqui as vezes acham que misturo nada com nada. E vim tentar fazer-me clara. Não sou triste escutem bem, quem me viu sabe das agudices que soluço ao rir. O que acontece é que não desligo. E gostaria de hoje recomeçar muito. O problema é que as letras pra mim só correm quando estou em imensa ardência. Quando estou em euforia me ocupo em demasia de viver. Isso não é justo com a felicidade toda que tenho em mim por me ser como gostaria. Em grande parte, obviamente.
   Achei então que poderia tentar, pois não quero decepcionar nem um pouco o que tem me feito sorrir. Acho apenas que com meus fios dourados não é de agrado citar nomes. Esquecerei alguns e isso não demonstra menor relevância, é apenas uma questão de ultimato de ocorrência.
   Percebe-se bem que em todas essas linhas ainda não consegui dizer. Quero cantar e dizer músicas que melodiem melhor o que dá frio na barriga aqui. Mas por enquanto é secreto e é meu segredo. Uma queimação que faz barulhos de trotes de equinos. Ai de mim. Ai de quem sente o próprio mim. 

24 de abril de 2009

Conjuga-me


   Eu sofro, tu sofres, ela sofre, elas sofrem, nós sofremos. Ele sofre? Eles sofrem? Isso é babaca. Mas o que eu tenho é saudade tanta que quase chego a transbordar o que não deveria dizer. Eu decidi. E aqui estou sem poder/querer fugir. Tenho tanto a dizer que prefiro não o fazer. Quando se sente demais perde-se o fluxo bom da consciência. Então aqui opto apenas por me expressar em partes. Gosto da palavra segredo.
   Mas é que hoje eu queria saber se deveria ter sabido antes de me deixar saber. E todos sabem o quanto eu me aplico em forçar o que não faz sentido, já que se o que tem sentido faz sentido então o que não tem também não deveria fazer. ?. Vão atrás.
   Me digam. Por favor só me digam. Eu tive um sonho ruim e pela primeira vez em todos meus anos de dançar com as palavras, eu não sei o que devo usar. Quero enxergar. Mas tenho medo de quebrar algum vidro.

Subconsciente em sonho é algo forte demais.
Foto por: Natália Facchini

17 de abril de 2009

Relógio-Pavil

   Coloco limites pra mim. E que fique claro e explícito pra quem não me viu que meu pavil é curto. Porque quem viu. Sabe-se o final da frase caso eu tivesse utilizado uma vírgula e não um ponto. E de verdade não era sabe, era conhece o chorar. Mas não vou ressoar. Estou tentando. Mas é que reconstruir fica complicado sem cimento. Sem estou. Sigo até quando acabar o que decidi. Redecidir? Melhor comprar um relógio que conserte. Traga.
   Portanto venha, porque cansei. Sem as horas não se conta o dia. Farei de fingir então meus minutos. É mentira, é deve quase com certeza. Simbolize a expressiva. Disseram-me que na vida real ninguém arrisca dançar na corda bamba. Bomba!
   02:00. Será esse meu ponto final. Acendi o pavil.

Confia em mim?

15 de abril de 2009

Alice precisa

   Sair pela porta de trás não existe. Vai fazer o que com o branco? Chamá-la-ei de Alice, porque quem sabe do que se trata também sabe que ela está no caminho para existir. Porém se a pego cantando, mato-a. Não é dia de cantarolar - eu disse a menina. Há novos contos não contados nas ruínas, pergunte ao moço. Almoço. Hora boa de relembrar que seu pai não lhe inventou um sobrenome. Casar.
   Por entre os fios bagunçados dos cabelos, grama. Não me culpe, sei só que ela gosta de correr. O felpudo verde é quem permite. Curtas pernas finas enroladas em vestido branco de alcinha. Ela então se senta no muro destruído de tijolos e desliza as unhas roídas. Por que não são vermelhos? Vai atrás da formiga.

   O antes é tão pouco que quase não deixei a moça nascer. Mas, a porta de trás. Há porta de trás.
Foto por: Fernando Borges

Deveria ser dito

   ... que hoje eu queria dizer muito. Todas as palavras, tópicos, idéias, sensações, vontades, saudades, e a falta de representação do que ocorre nessa velocidade de desejo de expressão resolveram se enfiar em mim. Mas tanto veio que nada foi. O que está aqui nem sempre é. E as vezes é só o que está. Texto. Muito do que veio não cabia e o que me mantém viva é que... há uma promessa de algum dia. Desassocie. Existe aqui algo que merece expressão individual. Trato de dois assuntos.

13 de abril de 2009

Meia

   O que se ouve agora são violinos. E também um celular vibrando na madeira. Susto!! Meu relógio apita e eu não posso esquecer meu remédio. Sinto que se talvez eu fizesse força para levantar e calçar minhas meias nada seria como é. Influências. É, meia. Meia-noite e seis para ser exata. O solo de violino está cada vez mais ardido, e como não sou de pouco, aumento o volume para sentir o arrepio iniciado nos ouvidos.
   Tampouco parecem meus cílios se ajustar e sei ser incômodo de pós chorar. Nada grave. É medo de motivo que ocasiona esperar. Meu frio na barriga hoje está impuro, misturado com uma ânsia de vômito danada. Cortaram-me a música e portanto perdi o que ocorria para destrinchar. Sei só que falta algo aqui. Vem?
   Vou dizer lembrar do que me tem sido dito. Porque acredito. Mas pareço apreciar uma boa indecisão.
Estou tomada.

2 de abril de 2009

Desenho de letras


   Sem fugir do título, o que está prestes a ser escrito apenas será o que já é em rascunho e nas mãos de quem gosta de escrever. Porém hoje parto do princípio que nada aqui corra por entre os olhos com sentido. Aposto que isso mesmo não fez. O que quero dizer é que se fugirmos do sentido relapso de apenas informar ou desabafar, temos aqui símbolos gráficos fatais de artesanar.
   Sempre me fascinei por onomatopéias e a representação de som, e ainda me atentei a anotar que crio-as se quiser para o que vier. "Fssiiii" escorre no dizer cheio de ar, agudinho, como uma varinha mágica sendo rapidamente tirada do bolso interior de uma jaqueta. "Blomp" me assusta por pesar. É lerdo. E que som te prefere?
   Mas além do que já é de costume e se eu fizer uso do que se lê para pintar? "ouo" com sua falta de sentido e seu nada de elevações, são círculos ou semi círculos com breves duas quase retas. Desenha-se tão bonito! Só não mais que "ili" que perderia a graça se pintada em caixa alta. "ooo, uiu, dob, wmw, S8S, 0o0, O0oo0O..." Não me fiz clara. Acho. Mas nem em todas as palavras combinaram de combinar o desenhar de letras maiúsculas com suas pequenas.
   Não sei bem mais por onde continuar. Sei que além de tudo isso, "apaixonar" olha-se melhor na minha letra de mão. Deve-se utilizar acentos como decoração.
Foto por: Thaynara Macário

1 de abril de 2009

Febre

   Decidi que não caibo mais aqui. E portanto me vou, e virei somente quando tudo divagar. Minha pressa urge hoje, mas é por pura insistência que desminto aqui o dizer primeiro. Não vou nada. Afinal essa é a brincadeira do dia hoje. Obssecada pelas últimas gotas, pelas últimas contas que terminam um colar eu pretendo me manter observando.
   Sei que nada do que venho dizendo por dizer sai do jeito que costumeiramente sairia. Mas meus dedos correm tac tac tac tac e não ouço mais o que me estava sussurrando. O que eu sei fazer é. E ponto. Só de ser já é. Resto aqui num apenas precisar de saber o que. Matei-me de conteúdo de mim e reneguei os que não brotaram da inocência da ignorância.
   Melhor ler algo. Depressa. Com pressa. Compressa.

31 de março de 2009

Triz

   Não sei. Na verdade nunca sei, e desaprendi muito do que me ensinaram só por questionar as teorias. Medo. Sei do que me sou do que me faz, mas o que é que me é? E será que me sou? Ou meu sou chegou a me encobrir de não ser o que me está? Pra desajustar eu só simplificarei explicando que não sou nada boa no que faço. Talvez boa. Mas me falta a otimização de algo mais específico, e é esse me ser desfalcado que....o que? Caí do rumo.
   O que me é devendo ser?

Boa tarde.

28 de março de 2009

Gota de choro


   Digo gota de choro primeiramente por uma piada interna e em segundo plano porque, após o episódio, lágrima me perdeu a função. É como se gota de choro ardesse no momento: dizer, e lágrima funcionasse como extravio do que sobrou. Há meses tinha controle do acontecimento transformado em memória, mas como acostumei a dar chances as desregras, aqui estou, de peito inquieto para puro clichê de dizeres femininos.
   Essa ventania, que sai do aparelho de falar, esfria meu umbigo. Perdi. Perdi. Perdi. Mal posso dizer, mal sei se é fato a perdição. Minhas migalhas de Maria que larguei seletivamente para não despistar o caminho de volta para casa, João comeu. E nem a bruxa má nos deixa comer a casa de doces. Culparei os passarinhos, eles é que permitem o costume.
   Estou bem no meu bem, na medida em que ainda consigo me divertir de mim. Fui sozinha ao cinema. Lágrimas não gotas. E por 20 minutos de caminhada até um teatro, achei que estava salva e segura embaixo da garoa de São Paulo, por entre os concretos mudos e expressivos da Avenida Paulista. Além disso, o que anoto sempre para não esquecer do meu salvar é o que faz desse eu que aqui trepida, mim. Minha básica fórmula é ressaltar que renasço dos meus prazeres.


Conto de fadas, me escuta. Não te desconfio, mas o livro está longo de viver sem razão.  
Foto por: Natália Facchini

23 de março de 2009

Saudade de borboletas

 Aparentemente, hoje o que obviamente me faria bem, palpitou. E é uma saudade de menina que não me basta enquanto danço com os ombros sentada na cadeira. Se fosse outro final de semana? Não sei. Mas sinto um frio na barriga bom de lágrimas. Só para ansiedade das histórias que me conto antes de dormir. Misturo o que me existe com o que queria e não queria, como se atuasse pra mim.
   O que fiz com meus eternos foi despercebido. Na verdade é como se as fadas estivessem adormecidas no meu estômago. Espero que minha infância não durma. Mas a verdade é que sinto muita falta de um grupo que fosse cinematograficamente meu, e de uma nuvem branca.
   
   
Meus olhos ardem, mas importa o fato de ter borboletas.
   

10 de março de 2009

Preguiça de ar


   Criei o maldito hábito de pensar que o fato de assumir minhas preguiças, me desculpam delas. Como se toda a culpa que carrego por não ter a concentração suficiente para abrir o jornal pela manhã, fosse facilmente lavada de mim por ter consciência do episódio. Resquícios de infância talvez. Sei que procrastino e afirmo que isso é inadimiscível, apenas repetindo o que acabo de dizer. Afinal esta minha última frase nada mais é que um exemplo do meu rastro de desculpa esfarrapada para não entrar em ação de novo. Faço sentido? Sinto, se não.
   Não consigo me ater a simplicidade das muitas palavras que posso usar, e cá estou novamente desviando do que deveria concluir uma reflexão de meia noite. Não leio o necessário. E tampouco estou consciente de todos os novelos de lã da política. Não sei quanto está o dólar, mesmo sabendo que qualquer informação, hoje, corre para mim com um simples clique nesta máquina que me consome os minutos úteis. Sem-vergonhisse minha; assumo minha alienação com repulsa própria.
   Uma grande verdade contraditória é que tenho pais formados em história, economia e administração. Que já estiveram envolvidos com a saúde, a educação, o meio ambiente e que, para meu orgulho, não deixaram a ditadura me cuidar. Não posso e nem quero de forma alguma então culpar minha criação. Tenho, e sempre tive, acesso à informações.
   Tenho estudo. Mas o que me desperta vem da inocência das crianças, da graça dos sorrisos, dos silêncios bem pensados, dos suspiros atormentados e das ficções encantadoras de quem possui uma criatividade ininterrupta. Eu venho do que não se diz. Olho o que deveria escapar e fervo uma sensibilidade tão grande que é o que me impede de ficar calada. Não sei tanto do mundo quanto gostaria e digo até que é mesmo preguiça de me esforçar, mas o que me atrai é um perfume do surreal, da arte do que não está aqui e do que é impossível apalpar. Minha querida Clarice, eu te digo que sou sua doçura de burrice, mas só em relação ao que é notícia nesse mundo real e cheio de ar.

Ah! E é claro que eu também tenho tendência a rimar.
Foto por: Natália Facchini

1 de março de 2009

Vem, serei


   Eu tenho em mim o espírito de um grande espetáculo musical. Quero dança, sou música e gosto de sentimentos excessivos. Vem teatro, falto-te. Isso não sai de mim. Não vai sair. Não pode sair. Não tem que sair!! Isso coração, agora, nesse agora que acabou de se esvair ou nesse agora que está por vir, pula de novo. Bate forte assim e cerra meus olhos, sorrir. Isso é meu caminho e por que é que minha rotina insiste em te deixar pra lá? É nisso, nesse isso que meu espelho desembaça, que meus óculos de grau perdem o uso. Que eu me lembro de não esquecer de mim.
   Na imensidão azul escura de uma brisa marinha, vi-me indo em direção ao nada, um paredão que não se movia, mas que por mais que eu corresse não encostava. Até que decidi então parar de olhar para trás, para frente ou para os lados. Estrelas. Por instantes eu coube em mim, e o que estou tentando fazer aqui é prolongar um momento em que explodi o que se é. O que me é. Submergi ou emergi no que eu quero e deveria ser.
   Você, que não sabe que o que vou dizer agora é para você, absorvi o que a sua fulgacidade me deixou. Serei sereia. Só porque me bateu de vez.
Foto por: Mayara Facchini

19 de fevereiro de 2009

Um presente

   Hoje sim. Bom saber da amiga que existe em mim. É simples como uma rua vazia, porém com tanto silêncio dito. Temos, cada uma, um pincel macio nas mãos, e com ele um apartamento bem produzido com estampas. E música. Nossa música, aguda na cabeça ou no nariz. Impessam-nos então aqueles que julgarem que este canto não sai bem. Continuaremos dançando nas flores de sonho, enquanto dirigimos um carro de banheira! Com o vento nos cabelos além das gargalhadas histéricas vindas do rádio. Do rádio?
   Promete só que não vira água, isso escorre muito fácil das mãos e eu proponho uma parede construída de lápis de cor! Se hoje eu decidisse não guardar nenhum segredo, eu diria apenas que sua máscara sai pra mim. E que nossa varanda tem vista pra Paraty.
   São dois pequenos parágrafos com gosto de "maraculê cum já", mas só você sabe o gosto de bar sem testa que isso tem.

Adriana Adriana Adriana Andrade. Você me resconstitui, AMIGA.

17 de fevereiro de 2009

Sentido da fada


   Confesso não saber bem o que existe hoje. Não em mim. E talvez também não lá fora. Não ouço os barulhos. E apesar disso qualquer volume acima do comum me afeta com intensidade de arder. Socorro!! Meu canto também não sai. Vai ver morri. Vai ver gastei choros e risos demais. Enfim pra que isso que digo tem uso? Se é que é real o que digo. Não pense que faço minhas palavras saírem pra te fazer fantasiar. O que digo me acontece, é isso. É que dizer suaviza a maluquice. É quase como comer chocolate.
   Comprei-me um caderno extra, achei pouco os que tinha por aqui e coloquei-o na bolsa. Quero vomitar dizeres o dia inteiro e quando sento pra recolhê-los, nada. Melhor então tomar conta. Meu grande pequeno dilema de hoje foi que com dois cadernos na mão na hora da aula me perdi, e não sabia qual usar. Perfeccionismo é desgastante. Quis me guardar em uma folha pra tentar recuperar algum sentido mais tarde e acabei incapaz de entendimento de mim. O que já é rotina.
   Ai! Separei tópicos pra hoje me despir do que me atrapalha, e lá se foram todos. Lembro apenas que faziam relação com formas doces do que me compõe. Ou talvez nem tão doces assim. Por fim gostaria apenas de me relembrar, anotando aqui, que eu costumava acreditar em fadas.

   Boa noite.
Foto por: Mayara Facchini (timer)

12 de fevereiro de 2009

Sonho 30 e 4

 Vou te contar sobre um sonho que tive essa noite. Foi extenso. Nem sei se foi porque dormi mais cedo. Mas estávamos em um grupo grande na cidade que me dá saudade. Tão real que eu podia ouvir meus próprios pensamentos. Quando dei por mim estava dentro de um carro, com os pais dele. Quem? Só importa a mim. Me contavam histórias, e eu conhecia tão pouco daquele sorriso tímido. Na verdade também pouco sabia quem eram seus pais. Mas estava a passear com eles. A neve, que também nunca me foi apresentada, caía lá fora enquanto a carona chegava ao fim. Sem frio. Apenas gostosas gargalhadas.
   Fui dormir e sonhei dentro de meu próprio sonho. Logo que acordei pela segunda vez, aqui em São Paulo, achei o ocorrido fantástico. Mas ao despertar e continuar dormindo em outro país, sorri sem força para abrir os olhos e logo estendi a mão ao telefone. Penso que todos algum dia já passaram pela sensação de não saber se sonharam ou se o que tinham em mente era lembrança de realidade. Pois bem era lembrança de realidade. Mas dentro do sonho. E como vêem até meus sonhos fazem graça comigo.
   30 de janeiro, foi essa a data que informei, ele assustado perguntou se não era essa minha data de retorno ao Brasil.
- Perdi meu vôo.
   
   
E pra quem tem mais informações digo que desta vez era 30 de janeiro. Mas que da última vez foi 4 de abril.

9 de fevereiro de 2009

Mi


   Estava dentro de um ônibus. Estava, estava sim. Eu sabia. Mas naquela sensação de não existir, como se nada, por mais ativo que fosse, tivesse vida. Ouvia meu nome, e perguntas. Respondia-as por impulso sem dar muita atenção ao que era dito. Desculpem.
   É que ando numa aflição tão grande de não sentir, que sufoco. E suspiro algum alivia. Na verdade, que suspiro? Não sinto nada, e isso não é de mim. Sinto demais e digo isso com sinceridade aguda. Não me aprovem, muito menos tentem me bajular. Ando com os nervos à flor da pele , e digo até que a flor já virou espinho. Não me faça graça. Vai ver que cansei das conquistas, perdi a doçura da subjetividade de um elogio. Soaria prepotência demais afirmar que estou completa por estar incompleta? Oras, silêncio. Estou quieta. E pretendo continuar no sossego.
   Passe cá meu violão, ou outro qualquer. Mas não espere que te mostre bom som. Toque a sexta corda incessantemente. Sente-se distante? É, são meus ouvidos.
Foto por: Hilton Facchini

8 de fevereiro de 2009

Cheesecake de domingo

 Conflito com o que está querendo sair de mim. Ou na verdade querendo ficar. É um querer de sim e não ao mesmo tempo, pode? Não consigo. Venha vida. Por favor. Traz pra mim de volta o que te pedi, ou traz um novo de novo. Suspiro ardido. Acho que, talvez na verdade, eu precise é dormir. Boa tentativa encobrir tudo com sono? Não acham? Pois bem é isso que faço e não faço. Escrevo, canto, pinto, toco violão, danço, caminho até que minhas pernas doam. Mas não corro. Saio e volto pra casa, vou pra aula, e rio, ai de mim como rio, a ponto quase de cair das escadas com tanta falta de ar. Estou suja de tinta no momento. Camisola verde limão e cabelos despenteados. Tento vencer a velocidade do mundo com meu nada. Desliguei a música.
   Meu tempo parada é aqui. E nem assim paro, alguém por favor me cala? Ou pelo menos me ocupa. Cada segundo em silêncio é meu desespero de precipício. E eu não quero mais me perder por aqui. Esse sol de domingo está me ofuscando. E que raios foi que sonhou com a personagem de filme?
   Vou aprender a fazer chessecake. Boa tarde.

5 de fevereiro de 2009

Medo

 Antes de começar, por favor, preciso explicar a mim e a vocês, que na verdade é apenas um, que costumo fazer isso com uma naturalidade descomunal, vou desembestando a desenhar as palavras como se estivesse penteando os cabelos. Mas vai ver que como ultimamente tenho usado os cabelos despenteados me perdi. E estou cheia de nós. Penso que já era para estar arrumada a essa altura do desejo de dizer coisas. Afinal sei que meu medo te deixa sem graça. E sinto em dizer que gosto do escorpião-panda. Mas só porque dentro do meu personagem, ele me faz segura. Mas o que é isso que digo? Non sense. Perdi os sentidos. Deixe-me retomar.
   Gosto de perfumes. Era isso que vim dizer, que tenho tanta afeição por isso que costumo senti-los mesmo quando não estão por perto. Acredite. No melhor estilo grama molhada com lembranças de verões. Mas ando interessada em essências que não me foram apresentadas ainda. O cheiro de dormir encostada em um leão bem grande e perigoso me atraí. Acho que aprendi a gostar de medo. E não foi com o escorpião-panda.
   Isso. Não vim tratar de perfumes, vim falar que não sei mais como se diz o que queria dizer. Que perdi meu dom. Ou que me tomaram. A grande estranheza é a saudade ardida no peito. É que simplesmente estar tentada com apoios fraternais aumenta a vontade insolúvel. O medo é meu perigo. Mas acho que permitirei com um proibido. E se eu morrer de segredo? Que morramos.
   Peço silêncio a vocês todos, por favor. Não quis me dizer com sentidos. Não hoje. Só por hoje, exilem alguns por quês.

   

4 de fevereiro de 2009

A graça da bala



   Ri sozinha. Peguei-me fuçando coisas. Não deveria? Pois bem, eu digo que sim. Afinal ele me interessa. E acho graça de estar "undercovered". E é gostoso como se tivesse 13 anos outra vez. Vou mudar de assunto pra evitar suspeitas e suspeitem aqueles que já suspeitam ou não. E afirmem a si por favor aqueles que já foram afirmados por mim. Ou melhor, aquelas. Os que não sabem de nada por favor riam. Já viram isso. Aqui e no espelho. E nas irmãs mais novas.
   Mas, indo ao ponto de qual eu deveria ter partido, eu bisbilhotei! Hahaha vi coisas. E ri, mas isso eu também já disse que fiz. Volto. A graça é ele não saber que eu sei do já sabido. E que frustante esse bicho que não me deixa dizer mais! É lógico que quero dizer, meu coração até esfria com o estômago inquieto, como uma criança que encontrou uma bala por aí. Bom, mas a bala é minha. E como eu já disse a graça está em ele não saber. Não tem fim, desculpem. Mas assim faço meu sentimento render.
Foto por: Natália Facchini

1 de fevereiro de 2009

Voz que não se escuta mais

 Dói. Dói sim. Mas não sei porque dói. Não era perto, era de longe, mas era de conhecer. E isso falha. Me deixa boba e frágil. Perco o embalo. Breco. Tudo continua correndo e ai como meu peito arde. E você pare já com isso! Não pense que é dor de amor. Dor de amor leva, mas sempre traz mais. O problema é que dor de morte breca. Interrompe tudo. Fica difícil sorrir, mesmo com o melhor agrado. Moço escute!!! Não era de perto. Era de conhecer!!! E ai ai ai por quê? E a voz que não se escuta mais, e a falta que faz... Traz de volta?? Suplico. Meus joelhos doem. Dou um soco na parede. A raiva me toma e a mão nem se incomoda. Ela aceita a situação de ser válvula de escape. Coitada, coitada, coitada da irmã que chora, que implora que agarra o perfume ainda em cima da cômoda. Que troca de cama, que grita e grita! BERRA! Menos um prato na mesa dói e mata o coração da mãe. Ai moço volta... Vem cá e escreve pra mim teus planos de jovem que sonha sem saber que o mundo engana. E deita de novo na sua cama. Não sei.. mas de repente assim... todo mundo volta a dormir bem.

23 de janeiro de 2009

Saudade

- Ai ai ai, por que arde?
- Não sei! Tentou assoprar?
- O ar não chega.
- E se eu assoprar pra você?
- Não é suspirar.
- E se eu suspirar?
- Vai arder mais.
- E se eu não suspirar?
- Vai machucar.
- Que faço então?
- Fica aqui.
- Posso grudar?
- Aí cura.

22 de janeiro de 2009

Para ti, Paraty


É de lá sim,
De lá vem tudo pra mim.
Mesmo em repetência.
   
Bate a brisa que sussura
Que castiga
Me arrebenta.
   
Mas faz um bem
De explosão de cultura
Pra trucidar a amargura
Pra me fazer alguém.
Foto por: Natália Facchini

Começo



   Isso é começo e me atrapalha um tanto por ter medo da internet. Não do bicho em si mas dos bichos envolvidos. Me assusta e interrompe as coisas que me queriam fluir sem parar, como o fato de que queria dizer que perdi o fundamento do que vim fazer, além de ter perdido também fundamentos que nada tinham a ver com o que se lê agora mas que remexem lembranças ardidas.
   Não sossego, é isso que por enquanto me parece ser o único fato confiável de enlouquecer, por simplesmente ler dor com uma paisagem carinhosa de fundo e me intrigar com os desleixos de mim mesma. Afinal, é impossível o ruim no bom e vice-versa.
E se por acaso ainda assim eu não te fizer sentido, deixa. Sou imensa demais pra mim e pequena demais pro que me exijo.

Boa noite.
Foto por: Mayara Facchini (timer)