15 de agosto de 2011

Correr da flor

   Eu descobri que chorar é uma das melhores formas de tirar meu rímel antes de dormir. O que vão pensar do travesseiro manchado eu não sei. Só lembro de pensar nisso pela manhã quando acordo. Mas nessa hora a pressa já me possuiu e anestesiou todas as dores que eu tentei consertar sozinha na noite anterior.
   A culpa, de ter vergonha e medo do que meu coração suplica por fazer, me cega. Eu deveria. Mas estou um pouco ocupada agora percebendo o quanto a vida é de mentira. Uma mentira breve. E o quanto a morte é um susto pra quem fica. Por que pra quem foi é o quê? Acabou onde?
   Minha alegria morreu dia 25/05/2011 e me perdoem os que acreditam, mas eu já não sei sorrir sem medo e estou enlouquecendo.
   Já não sei se é normal ser assim à flor da pele.

26 de maio de 2011

Não te ver

   Dessa vez é real. O que eu tanto temi e diversas vezes acordei do pesadelo, respirando e agradecendo à mentira, dessa vez se tornou real. Dessa vez não vou acordar. Dessa vez você não está aqui. Dessa vez é verdade que o barulho das suas patinhas no chão não vão me acordar pela manhã. Seu pulo na cama... as lambidas na cara..
   E eu não podia deixar passar em branco. Não podia, não posso e não vou. Porque é você, e eu te amei demais.
   De repente... o que é que se faz com um pesadelo de que não se acorda?

11 de março de 2011

Palpite


   Hoje vim dos palpites. Dos que não cabiam comigo.
   Eu precisava ser menor. E estou agora presa nessa necessidade de querer o menor. Como se de alguma forma um novo começo grande fosse o evento capaz de me tornar esse menor que estou buscando.
   Afinal, nunca vi ninguém nascer do meio. Do meio não funciona, penso que talvez nem se possa ser nascido de um meio. Vai contra as regras. Deve-se nascer do pequeno e morrer no final. Mesmo que o final nem sempre seja grande, ou seja final mesmo.
   O que eu não posso é acabar, pois quando se acaba é que começa o esquecimento. Preciso de um colo, de um choro, desses que todos os outros ao meu lado também não encontram. Sou humana e escorro dos meu olhos.

   E finalmente, depois de tanta luta, descobri o que é um Desinteresse Manso em mim.

6 de janeiro de 2011

Lágrimas pretas

   A morte tem dormido na minha cama. Fica ali ao meu lado sentada durante a noite. Não me preocupo. Ela não veio me buscar, e na verdade não creio que esteja esperando por alguém que me cerca. Pelo menos não tão cedo, pelo menos não tão logo. Eu espero.
   Está ali, muda. Como que para me dizer coisas no silêncio. E como ainda não me ensinaram essa língua, transformo tudo em choro, em rímel borrado no travesseiro. De forma a tornar visíveis as lágrimas que morreram.
   Ela veio pra levar de mim algo, e o que é não descubro. Sei apenas que enquanto me observa chorar expremida, deixa um perfume de medo, uma carícia invisível que toma conta de todo meu quarto quase escuro.
   Ela veio por alguém, e quase como um demônio do medo, está me rondando pra saber por quem.
   Morte, eu suplico que não me condene ao meu maior medo: não tire ninguém de mim.