26 de maio de 2009

Quando?


   Tenho essa mania babaca de chorar e me olhar no espelho todas as noites. Acho bonito como meu olhos realçam com o vermelhão borrado de preto. E com certeza seria um hobby interessante se. Pois bem, assoar o nariz entupido de ranho lagrimado na madrugada também. Toda aquela curta caminhada, nas pontas dos pés descalços, até o banheiro de piso gelado me ajuda na insônia. Mas na verdade é só desculpa pra trocar de espelho. Culpa da luz. Quarto, banheiro, quarto, banheiro, quarto, banheiro, quarto, quarto, quarto, quarto, banheiro, cama. Já está mais do que na hora de parar com isso. Eu durmo agarrada com meu edredon e amasso a cabeleira bagunçada no travesseiro molhado. E acordo cedo já embrulhada em suspiros. O telefone nunca toca.
   Chega de falar do que eu quero. Chega de falar de meleca. Chega de petições. Chega de mim. Chega de sonhar acordada, chega de esperar o que nunca veio. Nenhuma vez. Até hoje. Decidiram por mim que essa vida não me serve. Cansei, desliguei, morri ou sei lá, achem o que quiser. Vai ver o mundo não é de fadas como eu sempre me forcei a ver. Mas é que se eu não acreditar que as coisas são lindas, então nunca verei nada realmente bonito. Preciso de força ou impulso. Ou algo novo que me cuide de manter os detalhes doces.
   Eu não sei de mais nada, apenas o que já me era sabido. E o que eu nunca tive certeza, deixa pra lá também, porque estou no fim. Não descobri bem o que de mim quer fugir ou morrer mas está aqui. Tenho que lembrar: não esperar nada de ninguém e tudo de todo mundo. Por mim vou fugir. Correr por aí com alguns trocados no bolso e viver de...? Cantar dor, Billie. Ou esperança, né Billie?
   Respira fundo. Não chegou ninguém pra te cuidar. Me. Mas estão chovendo agora muitas gotas.

20 de maio de 2009

Vidas de cama

   Voltei pra minha rotina. Sempre me liquidam as aulas que falam demais. Costumo ouvir o que não deveria. Histórias dão conforto. Isso, isso, é claro que isso. Mas já sabia, não. Se eu fugisse de como usualmente digo as coisas talvez eu pudesse gostar um pouco mais do que às vezes quero dizer, mas é que pra mim chega. Não aguento um pingo a mais e vou deixar pra lá. Toc toc? A essa hora da madrugada? Aaah, é mentira minha. Mas é mentira de mim pra mim.
   Tenho essa repetição maldita que me ocorre todas as noites desde que me lembro ser. Refaço meus dias na cabeça com muita cinematografia. Essa palavra existe? Pois bem, já fui famosa antes de dormir. A cantora mais doce e não chata do mundo. Uma super escritora que vive de ganhar dinheiro com essa junção de caracteres prazerosos e dignos de artesanato. Já fui bem magra em capa de revista. Já fui gênia do século, mestra em dores de aflição de peito. Já fui a pessoa mais sábia do planeta. Também já fui a editora chefe de muitos departamentos de livros infantis. E também já fui muito amada, (isso costumeiramente não sairia de mim por pudor) mas por muitos e muitos homens. Mesmo. Geralmente todas mins moram no mesmo apartamento arquietado há anos (bem pequeno, de dois quartos, um desses todo pra música e artesanato, cores e antiguidades) e por ironia tem aquele amor companheiro, bobo, admirado e apaixonado de vida inteira. De verdade? Cabe tanta gente e coisa na minha cama.
   Insônia. Eu só quero, e quero muito de tudo que venho rascunhando pra mim. De qualquer um dos rascunhos espalhados. Chega de morrer por correr com pressa atrás. Eu não vou mais. Até segunda ordem de mim pra mim. 
   A verdade é que a persistência desaba quando não se tem mais motivo pra sair dessa cama. Ou?

 Mais aflições curtas agora no Twitter

15 de maio de 2009

Pinga chuva


   Não tenho tema nenhum pra jogar aqui hoje. O que não é justo já que a ardência no peito continua. Mais forte do que o normal pra ser sincera. Suspirar não resolve mais e já tentei chorar até tremer. Nada. Vou pra balada e vou sair de mim, e fazer bico pra dançar porque ainda sou mulher. Pelo menos hoje não me ser e me afogar no que geralmente não é costume. O dia está feio, molhado. Minha vontade não existe, inventei vontade externa pra me levantar da cama e pretendo usar essa mentira pra durar até sabe-se quando. Não dormi um dia sequer direito essa semana. E aparentemente vou continuar assim.
   Por pura vaidade pretendo me arrumar ao extremo. Parecer bonita ainda é uma das poucas coisas que me dá prazer e é minha. Não que isso seja informação útil. Na verdade nada do que se lê aqui ou em outros posts é. E se por acaso essa for sua primeira visita não adianta buscar mais conteúdo cultural. Não sei viver de escrever o que me ensinaram, só sei vomitar o que dói. Nem o que não dói eu sei descrever. Costumo usar sempre o mesmo vocabulário repetente e raramente me lembro de palavras bonitas que por pouco tempo expressam melhor o que eu deveria registrar. Além disso pra algumas coisas eu consigo ser bastante preguiçosa. Mas não é meu maior costume, aliás acho até que me doar demais pra tudo que decido é sempre um dos extensos motivos das minhas dores, raivas, choros, ansiedades e assassinatos de mim. Eu deveria parar e cortar tudo o que faço. O mundo podia correr atrás de mim às vezes. Só pra ver se por acaso eu mudo de idéia.
   Ai meu pescoço e boa tarde pra quem fica.
Fot por: Natália Facchini

13 de maio de 2009

Sozinha

   Eu vou sair daqui. E vou comer. E vou andar apressada até o metrô quase tropeçando em mim mesma porque essa cidade me fez assim, não porque estou atrasada. Mas principalmente porque eu não gosto de lerdeza e enfureço até a última gota da minha alma quando enfio os pés pelas mãos. Na verdade ontem disseram tanto sobre como se é, que eu quase acreditei ser tudo uma questão de criação e vontade. E nessa brincadeira de mentir, transformei aflição em dor de barriga de rir de algo que no fundo não era tão altamente gargalhante assim. A música não pode parar agora (e isso não é uma metáfora para parodiar "the show must go on" é apenas o som mesmo que se me for desligado quebrará o que estou segurando).
   Enquanto estiver no barulho eu vou andar correndo, e vou sorrir sozinha por olhar as ações dos desconhecidos existentes no mesmo local que me encontro. A feição das pessoas que lêem na rua é algo delicioso. Vou observar (ou observarei pra quem quiser privar o correto) o sol laranja que machuca minha vista quase toda tarde. Estarei atenta à placas de carro porque me divertem no trânsito e empurrarei empurrada a multidão toda.
   Eu faço sozinha, e sempre me dobro. Eu. Eu eu. 
   Esse blog é puro egocentrismo.

12 de maio de 2009

Minhocas e filmes


   Trocaram meu cérebro por minhocas. Minhocas bastante falantes e desconfiadas, se querem saber. E percebi o quanto é difícil viver com uma cabeça e um coração. Quem deveria falar não é a boca? Ando inquieta em excesso. É como se tudo doesse e eu não tivesse mais controle de nada. Todo e qualquer esforço pra me manter sã, escorre de mim. Ai ai ai ai ai ai. Preciso de cuidados, e preciso de concreto. Sem contar que com esse frio todo na barriga não dá mais. Eu quero viver demais e estou morrendo. Minha rotina favorita não...verbo mais. Dormir pra sempre parece uma grande escapatória, se não fosse é claro a programação de filmes para sonho que as minhocas têm escolhido pra mim.
   Não quero nada. Estou sem pique pra sair e não quero a companhia de muita gente. Estou seletiva e chata. Muita comida já não me preenche mais e não acho mais chocolate algum com gosto gostoso. Cantar dói e dançar me atrapalha. Não quero andar até cansar como costumava fazer. Não quero ler, não quero saber, não quero, não quero. Não quero falar, e tampouco sei o que gostaria de dizer. Tem um nó na minha garganta bastante grande que não desce com água e nem some com choro. Não quero sermão e nem conselho de ninguém. Quero só escrever o tempo inteiro sem me fazer clara, sem ser direta, sem dizer coisas com sentido porque no fundo no fundo eu não encontrei sentido em nada do que me dói. Minha mãe me disse que se eu não fosse Mayara, seria Clara. Mas não importa mais porque se eu fosse de fato Clara não me faria mais clara.
   Ontem com a cabeça no travesseiro as lágrimas saíam de mim sem exigir esforço de careta, só corriam. Comecei a pensar que com certeza grande parte do mundo estava a chorar comigo, cada qual com suas dores. Queria fazer a minha valer menos. Achei que não podia dormir sozinha e fiz minha irmã se expremer comigo na minha cama de solteiro. 
   Ela só não podia ter dormido primeiro.

Foto por: Hilton Facchini

10 de maio de 2009

Melodia

   Gosto de músicas melancólicas. E hoje.. ah hoje... Eu queria saber escrever como se não fosse eu mesma porque cansei da estrutura das coisas depois de prontas por mim. Deveria deixar apenas um "aaah" de suspiro. É só o que eu tenho feito ultimamente. Digo isso levantando os ombros e as sobrancelhas com uma expressão de quem diz não ter culpa. E gostaria de contar uma história de coisas doces. Uma história cheia de bobagens minhas, porque eu sei que em todos os meus fins, sempre descubro que o que me vale é essa melodia gostosa de violões delicados que eu costumo escolher pros meus dias.
   Eu não costumo fazer isso aqui porque não acho que seja correto, mas melhor forma de resumir o que digo não vejo. Apenas ouçam duas músicas: "Mango Tree - Angus and Julia Stone" e "Get Sick Soon - Hello Saferide". E só depois de colocarem play em alguma das duas eu peço que continuem a ler. Mas antes também gostaria de dizer que não poderia dizer nada do que direi, em primeira pessoa. E se usar a terceira, a idéia de que eu mesma estou dizendo as coisas persistirá. Portanto vou usar você. E vou dizer que...
   Você abriu os olhos de manhã e desejou com dor no peito que meu sorriso estivesse te dando bom dia. E passou o dia desejando que não existisse medo. Sussurrou no meu ouvido que queria chocolate quente, cobertor, pipoca e um filme daqueles que você acha graça por me atingirem, só pra me ver sorrir e chorar. Você queria tocar violão. Eu não deixei e te abracei por tanto tempo que o mundo todo morreu. Atrapalhou toda a história que eu contava só pra dizer que me adora, segurou meu rosto de cara de choro e deixou o silêncio não dizer que existe fim. Além disso você me contou todas as coisas que gosta no mundo, como pisar em folhas secas, misturar quente com frio e carinho nos cabelos.
   É... É....

5 de maio de 2009

Fica comigo


   Consegui. Mais um dia de ardência. Na verdade três. E não deveria estar aqui, já que tenho tanto pra fazer. Porém, me recordei num dia frio com sol como o de hoje, a caminho de casa enquanto andava de óculos escuros e uma blusa azul, de lã, quente e de gola alta, que há quatro anos nada era como é. Principalmente por eu estar sozinha a caminhar na rua com meu celular no bolso e uma pasta cinza nas mãos. Mas mais do que principalmente (já que não me recordo de nenhum sinônimo bom no momento) eu lembrei e doí de algo.
   Com 15 anos eu resolvi num supetão de dia para noite que só eu precisava de mim. E que portanto era um precisar duplo já que eu sou uma só. Como se meu eu se pedisse pra mim e meu outro eu, que é o mesmo, estivesse sendo pedido também. Um símbolo de infinito matemático agora cairia bem. Se não houvesse o empate de que meus eus também queriam alguéns.
   Não vim falar de carência, só que pra variar me despistei. De certa forma é como um suspiro rápido pra quando se tem frio na barriga. Alivia por segundos. Vim tratar de algo que não decidi a proporção de importância ainda, por isso não ousarei chamar de mais ou menos importante do que carência. Estou redundante e sem vocabulário hoje. Penso que isso se deve a minha preocupação com a noite.
   Voltando a meu início: com 15 anos, eu também descobri que além de precisar de mim, eu era também meu único instrumento de viver e que portanto meu infinito de ser era o único capaz de lutar. E só sei tomar conta desde então. E queimo por dentro por querer sempre achar um jeito sozinha. Só eu tenho vontade de fazer. Meu físico e emocional não se acompanham e em dias como o de hoje teria que andar no sol o dia inteiro pra equilibrar o desgaste.
   Eu quero tanto. E tenho tantas vontades de vida em mim que acabo por lutar demais comigo mesma sem aproveitar o que está ao meu lado. Por puro medo. Medo medo medo de ficar sem. De morrer hoje por acaso com uma bala perdida e não saber se eu vivi tudo que desejo com o espírito de quem é apaixonada pelos segundos que se chora ou ri.

Vida, não me acaba. Fica comigo.

Foto por: Natália Facchini