31 de dezembro de 2009

Trinta e um

   13:12. Não levantei. Porta trancada. Janela fechada com pedaços quentes de sol atrapalhando o meu não sono. Com o edredom entre as pernas e nada mais do que uma calcinha pra ajudar nesse sufocante calor, olhei, sem muita confiança, com olhos remelados para o ventilador de teto. Está sujo e vai passar a virada assim.
   Eu geralmente não gosto dos dias. Mas mais do que qualquer outro dia, esses últimos vinte trinta e uns de dezembro têm me incomodado. E, pra não remar mais contra a maré, resolvi, nesse escuro quente, pesar a consciência na balança clichê dos dias que existi. Sem sucesso. Só gosto disso em aniversários. Virei pro lado e agarrei o travesseiro. Continuo com tosse.
   Dessa vez olhando pra esquina do espelho, que beira o chão, com a parede, suspirei e assumi que a verdade é que eu de fato nunca pareço (leia isso como: estou) satisfeita. Injusto com... Vesti a camisola, abri a janela. Andei desengonçada e tonta até o banheiro pra entrar em um banho fresco. Continuei de mau humor. Almoço-Friends-assar cookies-fugir pra companhia da minha irmã.
   Não faço coisas que não sei o que significam e ainda assim me pego apaixonada por esconderijos e palavras de um dicionário mentiroso. Chacoalhar a cabeça, cantar até machucar a garganta, escangalhar a cabeça e latejar: "Is someone getting the best of you? You know where you are? You're in the jungle, baby, you're gonna die."
   Não estou bem.
   Esmaguei duas formigas. Correr para fugir.

9 de dezembro de 2009

Lanterna na água

   Não se pode mais viver aqui. Se me sou toda doida já e sozinha, como fico pra morar num dia que não sabe ele mesmo se é quente ou frio? A cidade ficou louca também, há dias com chão de água, e noites de escuridão extrema, sem luz de poste, de janela, de Natal. Precisei de velas e galochas.
   Num ímpeto de egocentrismo eu pediria perdão. Reparei já faz alguns anos que o dia fica de mal comigo quando de mal comigo já basto eu mesma. E se meu dia é o mesmo dia dos dias que são dos outros, portanto a culpa é minha de fazer dia feio pra quem sabe viver feliz nas nuvens cinzas. Vou fazer mais tempestade se isso que me está doendo dentro não passar.
   Como se implora em silêncio a solução da duvida? Eu sei, e arde. Arde em ondas que não sossegam o ir e vir. E que me deixam com medo da noite. Porque todo mundo sabe que as maluquices que queimam de dor preferem fazer visita de noite. Gostam do meu travesseiro, do meu edredom e da almofada que quase morre sufocada, mas gostam principalmente de mim, e portanto se alojaram no meu peito sem previsão pra partir. Suspiro. Pausa. Olho pro lado e torço o lábio. Nada do que escrevo gosto. Estou decepcionada comigo e com a metade de mim que se foi.

Isso é um grito de socorro e eu não quero ouvir ninguém.
   
   

1 de dezembro de 2009

Madeira clara

   Abri a janela pra combinar o dia triste lá de fora com o meu dia de triste peito. Percebi um hábito. E era uma intenção ardida de chorar mais do que cabia, do que podia, do que faço costumeiramente, do que fiz esses todos dias. Não o fiz por motivo atípico. Pois, quase como se meus olhos quisessem se suicidar, arrastei o olhar pra baixo e me deparei com uma janela aberta por completa e sem medo nenhum da nuvem preta que me tragou.
   Era mais um moço de vermelho, dos tantos que deviam estar de vermelho hoje. Regata também neste dia que está mais pra frio. Errou a roupa comigo. Deve estar perdido ou então morre de preguiça. Com um aviãozinho de papel tentei avisá-lo que estava sozinho:
"Moço, olhe bem que não há sequer móveis neste seu apartamento! Levanta depressa daí que este seu deitar só no chão, de madeira clara, deve ser dor no peito de quem não veio, não veio, não veio..."