6 de janeiro de 2011

Lágrimas pretas

   A morte tem dormido na minha cama. Fica ali ao meu lado sentada durante a noite. Não me preocupo. Ela não veio me buscar, e na verdade não creio que esteja esperando por alguém que me cerca. Pelo menos não tão cedo, pelo menos não tão logo. Eu espero.
   Está ali, muda. Como que para me dizer coisas no silêncio. E como ainda não me ensinaram essa língua, transformo tudo em choro, em rímel borrado no travesseiro. De forma a tornar visíveis as lágrimas que morreram.
   Ela veio pra levar de mim algo, e o que é não descubro. Sei apenas que enquanto me observa chorar expremida, deixa um perfume de medo, uma carícia invisível que toma conta de todo meu quarto quase escuro.
   Ela veio por alguém, e quase como um demônio do medo, está me rondando pra saber por quem.
   Morte, eu suplico que não me condene ao meu maior medo: não tire ninguém de mim.