28 de março de 2009

Gota de choro


   Digo gota de choro primeiramente por uma piada interna e em segundo plano porque, após o episódio, lágrima me perdeu a função. É como se gota de choro ardesse no momento: dizer, e lágrima funcionasse como extravio do que sobrou. Há meses tinha controle do acontecimento transformado em memória, mas como acostumei a dar chances as desregras, aqui estou, de peito inquieto para puro clichê de dizeres femininos.
   Essa ventania, que sai do aparelho de falar, esfria meu umbigo. Perdi. Perdi. Perdi. Mal posso dizer, mal sei se é fato a perdição. Minhas migalhas de Maria que larguei seletivamente para não despistar o caminho de volta para casa, João comeu. E nem a bruxa má nos deixa comer a casa de doces. Culparei os passarinhos, eles é que permitem o costume.
   Estou bem no meu bem, na medida em que ainda consigo me divertir de mim. Fui sozinha ao cinema. Lágrimas não gotas. E por 20 minutos de caminhada até um teatro, achei que estava salva e segura embaixo da garoa de São Paulo, por entre os concretos mudos e expressivos da Avenida Paulista. Além disso, o que anoto sempre para não esquecer do meu salvar é o que faz desse eu que aqui trepida, mim. Minha básica fórmula é ressaltar que renasço dos meus prazeres.


Conto de fadas, me escuta. Não te desconfio, mas o livro está longo de viver sem razão.  
Foto por: Natália Facchini

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