9 de dezembro de 2009

Lanterna na água

   Não se pode mais viver aqui. Se me sou toda doida já e sozinha, como fico pra morar num dia que não sabe ele mesmo se é quente ou frio? A cidade ficou louca também, há dias com chão de água, e noites de escuridão extrema, sem luz de poste, de janela, de Natal. Precisei de velas e galochas.
   Num ímpeto de egocentrismo eu pediria perdão. Reparei já faz alguns anos que o dia fica de mal comigo quando de mal comigo já basto eu mesma. E se meu dia é o mesmo dia dos dias que são dos outros, portanto a culpa é minha de fazer dia feio pra quem sabe viver feliz nas nuvens cinzas. Vou fazer mais tempestade se isso que me está doendo dentro não passar.
   Como se implora em silêncio a solução da duvida? Eu sei, e arde. Arde em ondas que não sossegam o ir e vir. E que me deixam com medo da noite. Porque todo mundo sabe que as maluquices que queimam de dor preferem fazer visita de noite. Gostam do meu travesseiro, do meu edredom e da almofada que quase morre sufocada, mas gostam principalmente de mim, e portanto se alojaram no meu peito sem previsão pra partir. Suspiro. Pausa. Olho pro lado e torço o lábio. Nada do que escrevo gosto. Estou decepcionada comigo e com a metade de mim que se foi.

Isso é um grito de socorro e eu não quero ouvir ninguém.
   
   

3 comentários:

  1. Normalmente eu diria que o clima e a cidade são um reflexo interno seu. Mas vc deveras vive em são paulo!
    Afiada como sempre!
    beijus,
    Adriano

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  2. Ah, fez jus ao vestido de angústia prenunciado no perfil. O trem anda bem até se olhar no espelho no fim. Besteira.

    A vida é dura, né moça?

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  3. escreve em fluxo. consciência livre. sei lá.
    gostei. a gente lê franzindo a testa e termina com um sorriso nos lábios.

    faça mais tempestades.

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