10 de março de 2009

Preguiça de ar


   Criei o maldito hábito de pensar que o fato de assumir minhas preguiças, me desculpam delas. Como se toda a culpa que carrego por não ter a concentração suficiente para abrir o jornal pela manhã, fosse facilmente lavada de mim por ter consciência do episódio. Resquícios de infância talvez. Sei que procrastino e afirmo que isso é inadimiscível, apenas repetindo o que acabo de dizer. Afinal esta minha última frase nada mais é que um exemplo do meu rastro de desculpa esfarrapada para não entrar em ação de novo. Faço sentido? Sinto, se não.
   Não consigo me ater a simplicidade das muitas palavras que posso usar, e cá estou novamente desviando do que deveria concluir uma reflexão de meia noite. Não leio o necessário. E tampouco estou consciente de todos os novelos de lã da política. Não sei quanto está o dólar, mesmo sabendo que qualquer informação, hoje, corre para mim com um simples clique nesta máquina que me consome os minutos úteis. Sem-vergonhisse minha; assumo minha alienação com repulsa própria.
   Uma grande verdade contraditória é que tenho pais formados em história, economia e administração. Que já estiveram envolvidos com a saúde, a educação, o meio ambiente e que, para meu orgulho, não deixaram a ditadura me cuidar. Não posso e nem quero de forma alguma então culpar minha criação. Tenho, e sempre tive, acesso à informações.
   Tenho estudo. Mas o que me desperta vem da inocência das crianças, da graça dos sorrisos, dos silêncios bem pensados, dos suspiros atormentados e das ficções encantadoras de quem possui uma criatividade ininterrupta. Eu venho do que não se diz. Olho o que deveria escapar e fervo uma sensibilidade tão grande que é o que me impede de ficar calada. Não sei tanto do mundo quanto gostaria e digo até que é mesmo preguiça de me esforçar, mas o que me atrai é um perfume do surreal, da arte do que não está aqui e do que é impossível apalpar. Minha querida Clarice, eu te digo que sou sua doçura de burrice, mas só em relação ao que é notícia nesse mundo real e cheio de ar.

Ah! E é claro que eu também tenho tendência a rimar.
Foto por: Natália Facchini

4 comentários:

  1. eu li o título preguiça, e fiquei com preguiça de ler...mas aproveitei que estava aqui e vim te deixar um beijo.

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  2. Não se deixe enganar achando que estudos é o caminho para felicidade... não não, espreme um pouco que sai um não inegável!
    A felicidade vem do que não é dizível, nem definível, nem nada que remeta a criação humana... ela vem mais de dentro (ou mais de fora, dependendo do referencial)
    O dia que você souber o que é, souber dizer, não será mais a verdadeira felicidade...

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  3. vc me dá muito orgulho...

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  4. É nítida a influência que Clarice te causa. Estranho seria se não causasse.
    Ando sentindo a mesma preguiça. Mas a preguiça não é de ar. Sabemos o seu gosto, gostamos de seu gosto. Falta apenas respirar, menina...
    O meu lado literata inativo, já que só te passei o jornalístico: http://maiores.informacoes.zip.net
    Voltarei. ;)
    Um beijo.

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