
Criei o maldito hábito de pensar que o fato de assumir minhas preguiças, me desculpam delas. Como se toda a culpa que carrego por não ter a concentração suficiente para abrir o jornal pela manhã, fosse facilmente lavada de mim por ter consciência do episódio. Resquícios de infância talvez. Sei que procrastino e afirmo que isso é inadimiscível, apenas repetindo o que acabo de dizer. Afinal esta minha última frase nada mais é que um exemplo do meu rastro de desculpa esfarrapada para não entrar em ação de novo. Faço sentido? Sinto, se não.
Não consigo me ater a simplicidade das muitas palavras que posso usar, e cá estou novamente desviando do que deveria concluir uma reflexão de meia noite. Não leio o necessário. E tampouco estou consciente de todos os novelos de lã da política. Não sei quanto está o dólar, mesmo sabendo que qualquer informação, hoje, corre para mim com um simples clique nesta máquina que me consome os minutos úteis. Sem-vergonhisse minha; assumo minha alienação com repulsa própria.
Uma grande verdade contraditória é que tenho pais formados em história, economia e administração. Que já estiveram envolvidos com a saúde, a educação, o meio ambiente e que, para meu orgulho, não deixaram a ditadura me cuidar. Não posso e nem quero de forma alguma então culpar minha criação. Tenho, e sempre tive, acesso à informações.
Tenho estudo. Mas o que me desperta vem da inocência das crianças, da graça dos sorrisos, dos silêncios bem pensados, dos suspiros atormentados e das ficções encantadoras de quem possui uma criatividade ininterrupta. Eu venho do que não se diz. Olho o que deveria escapar e fervo uma sensibilidade tão grande que é o que me impede de ficar calada. Não sei tanto do mundo quanto gostaria e digo até que é mesmo preguiça de me esforçar, mas o que me atrai é um perfume do surreal, da arte do que não está aqui e do que é impossível apalpar. Minha querida Clarice, eu te digo que sou sua doçura de burrice, mas só em relação ao que é notícia nesse mundo real e cheio de ar.
Ah! E é claro que eu também tenho tendência a rimar.
Foto por: Natália Facchini