10 de maio de 2010

Respiração branca

   Caso ele tivesse me ouvido. Foi pra isso que sentei no chão de neve. Estava muito escuro naquele beco, a não ser pelo poste de luz que parecia iluminar apenas a mim e ao meu casaco rosa queimado. Eu tremia de frio e me chacoalhava devagar tentando, de alguma forma, esquentar um pouco o meu corpo. Minhas bochechas rosadas começavam a se destacar mais na pele branca, era a falta de calor me queimando ironicamente. Meu lábios ardiam em vermelho de tanto que tirava peles ressecadas com os dentes. Puro nervoso.
   Eu queria virar pra trás e conversar com ele, olhando diretamente nos olhos, mas não me parecia justo uma vez que eu mesma nunca tinha visto seu rosto. Eu sentia saudades, é verdade. Mas só nessas noites de frio. Ele estava ali atrás de mim e eu podia sentir. De relance, também podia ver a fumaça de sua respiração. Não dizia sequer uma palavra.
   Insisti em perguntar: é você? Pra ter como resposta apenas um suspiro de susto e mais respiração branca perto de mim. Eu não queria mais insistir, eu não sabia mais enxergar. Era como se eu pudesse senti-lo em todos os outros lugares durante o dia sem sentir dor novamente. Mas eu sabia que na verdade, eu temia saber a verdade.
   Ele continuava atrás de mim, mudo, quase invisível se não fosse pelo "quase". E a outra também. Espionava-nos do telhado para saber se estávamos bem, sem sequer querer nosso bem.
   Levantei e continuei a caminhar no escuro molhando minhas botas pela neve. E ele também. É, ele também.

Um comentário:

  1. O que é? Precisa disso aqui para escrever outro? Porque ultimamente nem a angústia te faz vir aqui. O que está te batendo? Além do inter, é claro, esse espanca todo mundo, não é previlégio seu.
    Não gosto do seu sorriso pequeno de tudo bem. Que aperta os lábios, levanta levemente as maçãs e aperta os olhos tão rápido que dá pra ver de longe que há algo errado.
    Cospe logo! Maturidade é um saco.
    beijos

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