5 de maio de 2009

Fica comigo


   Consegui. Mais um dia de ardência. Na verdade três. E não deveria estar aqui, já que tenho tanto pra fazer. Porém, me recordei num dia frio com sol como o de hoje, a caminho de casa enquanto andava de óculos escuros e uma blusa azul, de lã, quente e de gola alta, que há quatro anos nada era como é. Principalmente por eu estar sozinha a caminhar na rua com meu celular no bolso e uma pasta cinza nas mãos. Mas mais do que principalmente (já que não me recordo de nenhum sinônimo bom no momento) eu lembrei e doí de algo.
   Com 15 anos eu resolvi num supetão de dia para noite que só eu precisava de mim. E que portanto era um precisar duplo já que eu sou uma só. Como se meu eu se pedisse pra mim e meu outro eu, que é o mesmo, estivesse sendo pedido também. Um símbolo de infinito matemático agora cairia bem. Se não houvesse o empate de que meus eus também queriam alguéns.
   Não vim falar de carência, só que pra variar me despistei. De certa forma é como um suspiro rápido pra quando se tem frio na barriga. Alivia por segundos. Vim tratar de algo que não decidi a proporção de importância ainda, por isso não ousarei chamar de mais ou menos importante do que carência. Estou redundante e sem vocabulário hoje. Penso que isso se deve a minha preocupação com a noite.
   Voltando a meu início: com 15 anos, eu também descobri que além de precisar de mim, eu era também meu único instrumento de viver e que portanto meu infinito de ser era o único capaz de lutar. E só sei tomar conta desde então. E queimo por dentro por querer sempre achar um jeito sozinha. Só eu tenho vontade de fazer. Meu físico e emocional não se acompanham e em dias como o de hoje teria que andar no sol o dia inteiro pra equilibrar o desgaste.
   Eu quero tanto. E tenho tantas vontades de vida em mim que acabo por lutar demais comigo mesma sem aproveitar o que está ao meu lado. Por puro medo. Medo medo medo de ficar sem. De morrer hoje por acaso com uma bala perdida e não saber se eu vivi tudo que desejo com o espírito de quem é apaixonada pelos segundos que se chora ou ri.

Vida, não me acaba. Fica comigo.

Foto por: Natália Facchini

2 comentários:

  1. Deve estar cansada, eu sei. Um post e pronto! Lá vem eu. Até imagina qual será o primeiro a ler e comentar.
    Não é porque quero escrever um comentário,pois nem deveria estar aqui. Mas dessa vez, pela primeira delas, eu não li. Não entendi. Só te senti ácida nos meus olhos, enquanto tentava passar por eles. E o pior, era a mesma acidez que corre por mim. Uma acidez extrema por me encontrar aqui. E um azedume porque não fui eu que escrevi. Ainda estou no processo dos eus, tús e alguéns. Parece não ter fim. Mas a acidez manuseia- me, como um gato manuseia uma bolinha. Por isso estou sempre aqui, me corroendo com as tuas palavras...já me são necessárias, pois me refletem por dentro.

    ResponderExcluir
  2. ... é isso. Essa epifania é maravilhosa! Maaay, que coisa é essa sua escrita hein! Vc capta muito bem essas nuances de perceber as coisas! Eu demorei muito pra perceber isso que vc percebeu... e ainda precisaram me contar, talvez se eu ficasse por mim mesmo, nunca teria descoberto! Haha... Tudo de bom! =***

    ResponderExcluir